sábado, 7 de abril de 2012

O Diligente Vai Aonde Quer. O Preguiçoso Até Aonde O Diabo O Arrasta..

Por Jorge Peret
As bolhas nas solas dos pés doíam-lhe muito. Mas essa era uma dor ínfima, quando comparada ao imenso prazer que sentia em ficar deitada o dia todo sem precisar bater um prego em uma barra de sabão. Assim era a vida de Juçara. Filha única do segundo casamento de sua mãe, Jacyra. Juçara era a personificação da preguiça. Uma adolescente de 16 anos, ainda na sexta série. Passou uma semana indo para o colégio, que fica a 100 metros, calçando um sapato 36, mas, na realidade, ela calça 38, quase 39. Tudo isso para não andar os 300 metros que separam a casa dela da sapataria. Isso mesmo, ela preferiu castigar os próprios pés, enchê-los de bolhas, perder uma semana de aula, só para não andar um pouquinho mais. Os sapatos foram um presente do seu meio-irmão mais velho, Ernesto, filho único do primeiro casamento de sua mãe, do qual ela ficou viúva. Ernesto não era preguiçoso, começou a trabalhar aos 14 anos com carteira assinada e agora aos 28 anos já estava casado, formado em Direito e trabalhava como assistente em um renomado escritório de advocacia de Salvador. Quando presenteou sua irmã, tinha acabado de comprar sua casa financiada pela Caixa e aos 21 anos já tinha seu próprio carro. Ele era o exemplo claro de todo o sucesso que a diligência pode conseguir. Mãe,padrasto e filho estavam muito preocupados com o perfil de Juçara, não gostava de estudar, trabalhar? Nem pensar!! A única coisa que ela gostava de fazer era namorar, para isso a preguiça não existia. Uma vez ela disse a Dona Jacyra que ia passar o fim de semana na casa de uma amiga. Saiu na sexta de tardezinha e só voltou domingo no final da tarde. Ficou 48 horas seguidas em um quarto de motel com um ficante, sem sentir um pingo de preguiça, muito pelo contrário, em plena atividade. Ela só sentiu preguiça na segunda-feira, de manhã cedo, na hora de se levantar para ir para a escola. Estava namorando com um cara que parecia ser trabalhador, mas não foi esse o das 48 horas no motel. Pro motel ela foi com um figura cujo apelido dispensa comentários, Chiquinho Boca de 09, ou Chico Bala, Balinha, como os mais íntimos do bairro o chamavam. De vez em quando ele dava umas caronas a ela e, no meio do caminho sempre rolava uns amassos, ela tinha que pagar a carona de alguma forma. Ele achava que ela não gostava muito do que rolava durante as caronas, mas a amizade íntima já existia desde criança. Isso porque ela escondia o jogo, ela fingia que só ficava com ele, fingia que não queria nada sério com ele. Assim como ela fingia que namorava Jacinto. Para ela ,fingir não dava trabalho. Era cômodo, aliás, ela gosta muito de qualquer coisa que não dê trabalho ou que o reduza de alguma forma. Jacinto, o jovem amigo e colega de trabalho do pai dela, namorava Juçara há quase um ano e achava que ela era louca de amores por ele. Ela sabia fingir tão bem! Que até a mãe dela achava isso também. D. Jacyra só descobriu a verdade sobre sua filha depois que Juçara foi encontrada morta por estrangulamento dentro de carro roubado em um terreno baldio nos fundos do colégio onde ela estava repetindo a sexta série pela terceira vez. A última coisa que ela se lembra é da filha saindo às pressas para não perder uma carona. Mal sabia ela que esta carona em vez de deixá-la no colégio, a deixaria no cemitério.

2 comentários:

Scar disse...

Oi professor, sou eu Oliver, seu aluno, gostei do texto, olha meu blog magisterperet.blogspot.com ;)

Lenira disse...

Professor Peret,
Aguardo informação sobre o texto que será um dos temas da avaliação de Lenira.
e-mail: niragata.guerreira@gmail.com
Obrigado!

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